Pular para o conteúdo principal
ENCONTRO DE ESTUDO
EIXO 1 – LETRAMENTO LITERÁRIO

No dia 02 de maio de 2017, reuniu-se a equipe do Eixo 1: Letramento Literário para mais um encontro de estudos com bolsistas do PIBID. O estudo dirigido se deu na sala 4 do bloco C da UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná - Campus de Cornélio Procópio, e contou com as presenças da coordenadora, Profa. Dra. Ana Paula Franco N. Brandileone e, também, das professoras supervisoras, Ieda Maria Sorgi P. Elias e Paula Roberta Ribeiro Dantas.
O encontro iniciou-se com a leitura do conto “Os botequins”, de Dalton Trevisan (1972), e posteriormente a análise do mesmo sob a orientação da professora Ana Paula. Foram discutidos alguns aspectos do conto, como o uso dos recursos estilísticos, vez que a forma utilizada pelo autor possui papel de destaque para gerar o efeito de sentido proposto pelo texto literário, que é o de desvelar um caminho (vida) sem saída. O conto possui 12 parágrafos, sendo que 9 deles apresentam o mesmo conteúdo, ou seja, há reiteração do conteúdo semântico, o que suscita o automatismo do personagem que, diariamente, repete o mesmo comportamento: “Noite fria e, como todas as noites, o botequim deserto. José sentava-se à mesa do fundo”, ou ainda, “Descobriu aquele botequim e vinha, todas (sic) noites, sentar-se à sua mesa”.
Também a utilização de verbos no pretérito imperfeito auxilia na fixidez do personagem, já que esta conjugação verbal leva à duração dos fatos no tempo, como no trecho: “Cada vez que alguém que ali entrava, José sentia o odor familiar de amoníaco”. Ainda o uso de pronomes indefinidos corrobora a situação estática e passiva no da personagem: “todas as noites”, “mesmo jornal”.
O espaço apresentado pelo conto leva o leitor para o local degradante que José frequenta diariamente: “O botequim era um corredor escuro, com três ou quatros mesas encostadas à parede”; “Botequim frio, escuro e pestilento”. Não por acaso, o botequim revela a dependência excessiva do personagem ao álcool, aspecto revelado em alguns trechos do conto, como por exemplo: “José tornava na noite seguinte; o relógio no bolsinho do gordo e a aliança na grossa mão cabeluda do gordo já haviam sido a aliança e o relógio dele”.
O momento ápice do conto é quando um homem entra no botequim e suicida-se na frente do protagonista, interrompendo o ritual praticado por José todos os dias, que ficava no bar até o seu fechamento. Após o ocorrido espera-se uma mudança no comportamento de José, porém, não é o que ocorre: “José afastou-se vagarosamente e, a cada passo sentia a meia encharcada. Por mais cansado que estivesse, podia andar a noite inteira na chuva. Não era hora de ir para casa. Teria de achar outro botequim e começar outra vez”.
Logo, o conto não apenas corrobora os pressupostos defendidos por Vicent Jouve (2012) a respeito da relevância do plano de expressão para a significação do texto literário, mas também alicerça a discussão de Antonio Candido sobre a função formadora/educadora da literatura: “A sua função educativa é muito mais complexa do que pressupõe um ponto de vista estritamente pedagógico” (2002).
Posteriormente, pautou-se a respeito da elaboração dos resumos para as comunicações orais no III SELLITCON – Seminário de Estudos Literários e Literatura Contemporânea -, que será realizado entre os dias 29 a 31 de maio, na Universidade Estadual do Norte do Paraná, sob a coordenação da Profa. Dra. Ana Paula Franco Nobile Brandileone.

Referência
CANDIDO, Antonio. A literatura e formação do homem. In: DANTAS, Vinícius. Textos de intervenção. São Paulo: Editora 34, 2002.
TREVISAN, Dalton. Botequins. In: Cemitério de elefantes. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Resenha do livro O barbeiro e o judeu da prestação contra o sargento da motocicleta

Resenha     SANTOS, Joel Rufino dos.   O barbeiro e o judeu da prestação contra o sargento da motocicleta . São Paulo: Editora Moderna, 2007 .   Por: Márcia Picoli     O livro O Barbeiro e o Judeu da prestação contra o Sargento da motocicleta, do historiador e escritor Joel Rufino dos Santos, é uma novela dividida em 15 capítulos curtos, ambientada num morro da cidade do Rio de Janeiro. Uma trama que envolve um babeiro, um sargento de polícia, um judeu negociante, uma mulher disputada por dois homens e um embrulho de jornal. Novela que envolve a pós Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) e a Era Vargas (1937 – 1945). Foi uma época na qual pessoas, esperançosas na paz mundial, acreditavam que poderiam, a partir daquele momento crucial, viver sem sofrimento. Contudo, o nazismo fora derrotado, a ditadura no Brasil chegara ao fim, e mesmo com todas as mudanças sociais e políticas ocorridas no mundo pós-guerra, as pessoas continuaram a sofrer pelas mesmas razõe

Resenha do livro VENDEM-SE UNICÓRNIOS

INDIGO. Vendem-se unicórnios. Ilustrado por Leo Gibran. São Paulo: Ática, 2009. Por: Letícia Thayná Barboza A obra Vendem-se Unicórnios foi escrita em 2008 e tem como autora Ana Cristina Araújo Ayer de Oliveira, que usa o pseudônimo Índigo. Ela nasceu em 1971, em Campinas e, em 1998, começou a publicar seus contos na internet. Além dessa obra, a autora também escreveu várias outras, tais como: Saga animal , Férias Merecidas e Casal Verde . O livro aborda um tema polêmico, o consumismo. É uma obra muito interessante e de fácil entendimento, pois ao longo da história vai apresentando flashbacks que vão esclarecendo as situações ao leitor. A obra relata a história da jovem Jaqueline que, para deixar de ser invisível aos olhos dos seus colegas de escola, se deixa levar por uma nova amiga, Priscila França, que lhe apresenta uma maneira irresponsável de usar o cartão de crédito. Jaqueline se deixa levar pelo deslumbramento das compras e pela atenção que está recebend

Resenha da obra No meio da noite escura tem um pé de maravilha: contos folclóricos de amor e aventura

Resenha   AZEVEDO, Ricardo. No meio da noite escura tem um pé de maravilha: contos folclóricos de amor e aventura. 10. Reimpressão. São Paulo: Ática, 2008.     Por: Delba Tenorio Lima Patriota Villela   O escritor e desenhista paulistano Ricardo Azevedo refere-se à sua obra No meio da noite escura tem um pé de maravilhas , como “uma coletânea de contos muito antigos, criados e guardados na memória do povo, que vêm sendo contados de boca em boca desde que os portugueses chegaram ao Brasil e até antes, pois os índios também contavam e ainda contam belas histórias”. (2008, p. 118). Neste trabalho, Azevedo entrega aos leitores uma seleção de “causos” ameaçados pelo esquecimento, os quais o autor intenta preservá-los através da escrita, pois teme pelo seu desaparecimento. São dez contos que, a partir de uma linguagem simples e coloquial, estreitam relações com o leitor, ao mesmo tempo em que tentam buscar, na memória coletiva, fatos que os aproximam. Como escrev