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ENCONTRO DE ESTUDO
EIXO 1 – LETRAMENTO LITERÁRIO
Na terça-feira, dia nove de maio de 2017, ocorreu mais um encontro de estudos do grupo do PIBID, Eixo 1- “Letramento literário”, mediado pela Profa. Dra. Ana Paula Franco N. Brandileone, com a presença das professoras supervisoras Ieda Maria Sorgi P. Elias e Paula Roberta Ribeiro Dantas, na Universidade Estadual do Norte do Paraná - Campus de Cornélio Procópio.
Primeiramente, a professora coordenadora Ana Paula apresentou a possibilidade da participação da equipe em um ciclo de palestras sobre literatura, organizada pela parceria entre a Universidade Estadual do Norte do Paraná- Campus de Cornélio Procópio - e a Universidade de Coimbra, em Portugal. Serão oito palestras ministradas por professores da UENP e da Universidade de Coimbra presencialmente ou por videoconferência, entre maio de 2017 a abril de 2018. Neste mês, a palestra será ministrada pelo Prof. Dr. Thiago Valente, docente no Curso de Letras e diretor do Centro de Letras, Comunicação e Artes, intitulada “A literatura infantil e juvenil brasileira contemporânea: algumas vertentes”, a ser realizada no dia 24/05, às 12h15.  Esta palestra não será tratada como transferência de atividade, devido ao horário da mesma, entretanto, os bolsistas devem comparecer. No mês seguinte, contudo, oportuniza-se a transferência da atividade para palestra, também já agendada, com o Prof. Dr. José Augusto Cardoso Bernardes, professor Catedrático da Faculdade de Letras e diretor da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, no dia 26/06, às 14h, com o título: “A importância do contexto no ensino da literatura”.  
Em seguida, sob a orientação da professora Ana Paula, analisou-se o conto “Umbilical” (2006), de João Anzanello Carrascoza, autor com um estilo que se opõe à tendência da violência, uma das marcas da literatura brasileira contemporânea. O conto, com uma exuberante delicadeza e melancolia, retrata a superproteção de uma mãe que sofre pelo filho adulto por conta da frustração do rapaz em não conseguir  emprego, tendo em vista a humilde condição financeira deles.   É curioso como o acolhimento materno é simbolicamente representado pela casa no conto. No ambiente interno o filho encontra a calma, a proteção, a serenidade, enfim, um espaço que fornece um conforto semelhante ao útero materno. Em contraposição com o cenário tempestuoso, ou seja, agitado e caótico do mundo externo. Também foi identificada intertextualidade com a Bíblia por estabelecer, em alguns momentos, associação com a dor sentida por Maria, ao presenciar o martírio de seu filho Jesus Cristo, com a dor da personagem narrada, como no seguinte trecho: “[...] como se a cruz que eu arrastava a cada passo não produzisse marca nem rumor algum no assoalho que ela encerava com tanto esmero, e embora seu semblante parecesse calmo, eu podia ler muito além de seu rosto ensombrecido, [...] eu perguntei-lhe para esmagar o silêncio entre nós [...] Como foi a entrevista?, e ele respondeu-me com a artimanha dos filhos que desejam poupar a mãe de seus malogros” ( CARRASCOZA, 2012, p. 154).
Destacou-se, ainda, o modo como é expressa a relação umbilical entre mãe e filho, isto é, sua relação de dependência e coexistência, por meio de recursos narrativos: o fluxo de consciência e a polifonia. O fluxo de consciência é um recurso narrativo a partir do qual o leitor entra em contato direto com a consciência do personagem, ou seja, sem a mediação do narrador, oportunizando um mergulho total em seu universo íntimo.   Já a polifonia é a presença de múltiplas vozes e consciências independentes originárias de um determinado universo do qual trazem traços peculiares. Tais recursos viabilizam a expressão da latente conexão, na medida em que funde e separa as consciências do filho e da mãe, bem como suas memórias e sensações, evidenciando a existência individual de cada um e, ao mesmo, tempo seu indissolúvel laço, aparentemente rompido no parto, mas que se transforma num “fio muito mais espesso e invisível” (CARRASCOZA, 2006, p. 158) ao longo da vida.
A análise do conto permitiu a ratificação do pressuposto do texto de Vicent Jouve (2012), já discutido no encontro do dia 25 de abril, a respeito da relevância estrutural para a significação do texto literário: “[...] enquanto na linguagem corrente o poder evocativo do significante geralmente é neutralizado (o importante é o conteúdo da mensagem), no texto literário – assim como em todo objeto de arte – a forma não pode ser isolada do conteúdo: ela faz parte do sentido” (2012, p. 90). Particularizando o enunciando: se o conto “Umbilical”  não apresentasse a estrutura escolhida pelo autor (a polifonia, por exemplo), a mensagem dificilmente se concretizaria com a mesma profundidade e intensidade que manifesta para o leitor.

Referências
JOUVE, Vincent.  A significação artística. In:______. Por que estudar literatura? Trad. Marcos Bagno; Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2012.  p.81-92.
CARRASCOZA, João Anzanello. Umbilical. In:______. O volume do silêncio. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p. 153-159.



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