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ENCONTRO DE ESTUDO
EIXO 1 – LETRAMENTO LITERÁRIO

Na terça-feira, dia seis de junho de 2017, ocorreu mais um encontro de estudos do grupo do PIBID, Eixo 1- “Letramento literário”, mediado pela Profa. Dra. Ana Paula Franco N. Brandileone, com a presença das professoras supervisoras Ieda Maria Sorgi P. Elias e Paula Roberta Ribeiro Dantas, na Universidade Estadual do Norte do Paraná - Campus Cornélio Procópio.
A coordenadora Ana Paula abriu o encontro com uma breve fala sobre o III SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS E LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA – SELLITCON, evento realizado entre os dias 29 e 31 de maio na Universidade Estadual do Norte do Paraná, campus Cornélio Procópio, no qual os pibidianos realizaram comunicações representando o Eixo 1, inspiradas nas discussões dos encontros de estudos e/ou apresentando os  resultados de intervenções anteriores do projeto nas escolas.
Em seguida, partiu-se para a dicussão central: refletir sobre uma proposta de sequência didática expandida da obra selecionada para trabalho nas escolas, o romance O filho eterno, de Cristovão Tezza, articulando com as etapas que compõem a sequência expandida de leitura que, por sua vez, alicerça-se nos pressupostos teórico-metodológicos do livro Letramento Literário, de Rildo Cosson, os quais servirão de suporte para elaboração de uma nova sequência expandida. Isto é, cada equipe - uma supervisionada pela Professora Ieda, da Escola Estadual Zulmira Marchesi e, a outra, pela Professora Paula, da Escola Estadual Major João Carlos de Faria – elaborará um material didático que, posteriormente, será compartilhado, sendo que as melhores propostas de cada material comporão uma única sequência didática, que será implementado nas escolas estaduais Zulmira Marchesi e Major Carlos de Faria.
No que se refere à sequência didática apresentada, elaborada por Kátia Cristina Cunha Ogata, sob orientação da Profa. Dra. Vanderléia da Silva Oliveira, produto de participação no PDE, em 2014, o grupo problematizou certos aspectos desta sequência, dentre eles o longo tempo de intervenção, a presença de muitas atividades que fugiram da proposta temática e/ou do teor de discussão do romance ou que traziam atividades repetidas. A partir desses aspectos, delinearam-se propostas bastante interessantes, centradas para a elaboração de sequência a ser desenvolvida.
A obra O filho eterno é uma narrativa com traços biográficos, e que apresenta a maturação de um jovem estudante de Letras, escritor/poeta e relojoeiro nas horas vagas, que tem sua vida abalada e frustrada pela chegada de um filho com Síndrome de Down, entre os anos 1970 e 1980, quando o assunto ainda era permeado por muitos preconceitos e “achismos”. 
Considerando a articulação da teoria – pressupostos metodológicos vinculados ao letramento literário (Cosson, 2016) – com a prática – proposta de sequência expandida com a obra O filho eterno -, o grupo analisou etapa por etapa da sequência expandida. São elas: motivação, introdução, leitura, primeira interpretação, contextualização, segunda interpretação e expansão. 
A Motivação é o primeiro passo e consiste na preparação e na instigação do aluno para a leitura do texto literário, oferecendo-lhe pequenos indícios sobre a obra. Uma sugestão que surgiu para esta etapa foi a apresentação de um vídeo que testemunhe a relação entre pais e filhos; situação semelhante a enfrentada pelo personagem-protagonista.
Em seguida, a segunda etapa, parte-se para a Introdução do romance em si; momento de apresentar obra e autor, bem como do livro - leitura da capa, orelhas, sinopse, etc. Nesta etapa, foi sugerida a apresentação de uma entrevista de Tezza comentando sobre a obra. Após o cumprimento das 2 primeiras etapas, lembrou-se de uma prática que tem sido adotada: aplicar um questionário sobre as expectativas deles com o projeto e com a leitura da obra.
A partir de então, segue-se para a fase da Leitura, cujo objetivo é de um lado acompanhar a evolução da leitura da obra pelos alunos e, de outro, averiguar se a leitura está sendo realizada. Nesta etapa, sugere-se, para manter a motivação para leitura, promover a competividade entre os alunos, dividindo a turma em grupos e propondo atividades como questionários e quiz. Para complementar, o grupo aposta no diário de leitura para registrar o andamento da leitura do texto. Nos intervalos de leitura, as atividades precisam dialogar com o texto lido pelos estudantes. Dessa forma, foi colocada a possibilidade de trabalhar com contos que tematizem a relação entre pais e filhos, como os contos “A terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa, e “Umbilical”, de João Anzanello Carrascoza (já analisado em encontro anterior), por exemplo.
Após a leitura, inicia-se a Primeira Interpretação na qual é importante o registro escrito, a fim de verificar a compreensão global da obra escolhida pelos alunos. Nesta fase é interessante o apoio de outros gêneros textuais, pois estimulam a prática da escrita, também fundamental para os alunos no ambiente escolar. O gênero sugerido foi a resenha crítica, vez que permite a expressão livre das opiniões dos estudantes sobre o texto.
Feita a atividade de interpretação, é chegado o momento da Contextualização, ou seja, “[...] o movimento de ler a obra dentro do seu contexto, [...] aquilo que ela traz consigo, que a torna inteligível para mim enquanto leitor” (COSSON, 2016, p. 86). Cosson apresenta sete tipos de contextualização: teórica, histórica, estilística, poética, crítica, presentificadora e temática.  Para o romance em questão foram inicialmente indicadas a abordagem presentificadora, partindo do questionamento de como a sociedade e seus segmentos lidam com a Síndrome de Down na atualidade; a estilística, na tentativa de ilustrar aos alunos o modo intimista com que o autor narra o texto; a abordagem poética, investigando os sentidos assumidos pelo título da obra  “filho eterno”, por exemplo, e a abordagem crítica, trazendo à tona a fortuna crítica (ensaios, resenhas, teses, dissertações, etc) do livro. 
Na próxima etapa, a Segunda Interpretação, é definido um aspecto da obra para realizar uma leitura mais aprofundada, em oposição ao olhar global da Primeira Interpretação. Foi sugerida a exploração dos intertextos presentes na narrativa ou ainda transferir o trato com a questão biográfica para esta fase. 
Por fim, o momento da expansão da leitura, isto é, a “[...] ultrapassagem do limite de um texto para outros textos, quer visto como extrapolação dentro do processo de leitura, que visto como intertextualidade no campo literário [...]” (COSSON, 2016, p. 94). Cogitou-se procurar obras que tragam personagens com outras necessidades especiais, como cegos e cadeirantes. Algumas obras que tratam da síndrome de Down foram citadas como A menina está perdida em seu século à procura de seu pai, do escritor português Gonçalo M. Tavares, a qual apresenta uma protagonista com a síndrome num cenário pós-guerra na Europa, e a história em quadrinhos Não era você que eu esperava, do francês Fabien Toulmé, que traz uma situação muito próxima à vivida pelo protagonista de O filho eterno, ao tratar da surpresa de um pai ao lidar com uma filha com síndrome de Down.
Todas as sugestões serão avaliadas para a elaboração da sequência expandida, pensando sempre numa mediação que estimule a descoberta legitimamente literária da obra pelos alunos, chamando sua atenção para como a humanidade de seu protagonista, isto é, suas frustrações, fraquezas e equívocos, mas também seu aprendizado e evolução, foi construída. Pretende-se instigar o olhar dos alunos para uma particularidade da literatura, seu caráter humanizador, o qual confirma nossos complexos traços humanos, na medida em que “[...] confirma e nega, propõe e denuncia, apóia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas” (CANDIDO, 1995, p.243) que rodeiam a vida.

Referências
COSSON, Rildo. Letramento literário. São Paulo: Contexto, 2016.

CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In:______Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas cidades, 1995. p.235-263.





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